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sexta-feira, 12 de junho de 2015
"FRANÇOIS XAVIER NGUYEN VAN THUAN E O SIGNIFICADO DE SEU TESTEMUNHO"
Obs: Imagem extraída do site:
www.pt.josemariaescriva.info.com
"FRANÇOIS XAVIER NGUYEN VAN
THUA E O SIGNIFICADO DE SEU TESTEMUNHO"
O Cardeal François Xavier Nguyen Van
Thuan passou 13 anos de sua vida em uma prisão comunista no Vietnam, e os
últimos 11 anos de sua vida no exílio. Tendo ocupado o cargo de presidente do
Pontifício Conselho Justiça e Paz, pode ser considerado uma das grandes
testemunhas do empenho cristão na luta pelos direitos humanos no século XX. Mas
a grande força de seu testemunho é a sua capacidade de cultivar o amor e a
esperança nas situações mais difíceis, que o tornou um marco de vida cristã
para todos. Nesse artigo, o Cardeal Renato Martino, Dom Giampaolo Crepaldi e o
Papa Bento XVI escrevem sobre o significado de seu testemunho.
O Cardeal François Xavier Nguyen Van Thuan nascido no Vietnam em 17 de abril de
1928, foi, sem dúvida, uma das maiores testemunhas do cristianismo do século
XX. Filho de uma família de católicos vietnamitas, foi ordenado padre em 1953 e
bispo em 1967. Foi feito prisioneiro pelo governo comunista do Vietnam em 1975,
tendo permanecido na prisão por 13 anos.
Na prisão, passou por experiências
amargas, durante alguns meses esteve confinado numa cela minúscula, sem janela,
úmida, que para respirar passava horas com o rosto enfiado num pequeno buraco
no chão. Os carcereiros eram mudados constantemente, para evitar que eles
conversassem com ele e se tornassem seus amigos. Porém, após algum tempo as
autoridades chegaram a conclusão que essa não era uma boa estratégia, pois a
cada dia mais guardas se “contaminavam” com as ideias cristãs do prisioneiro. Nesse período,
escreveu às escondidas três livros, todos dedicados ao tema da esperança.
Foi libertado em 1988. Em 1991 foi
para Roma e nunca mais teve permissão e voltar ao Vietnam. No Vaticano,
tornou-se vice-presidente (1994) e presidente (1998) do Pontifício Conselho
Justiça e Paz. Em 2000, pregou o retiro quaresmal para o Papa João Paulo II e a Cúria Romana, tendo sido feito Cardeal em 2001.
Faleceu de câncer, em Roma, em 16 de
setembro de 2002, e sua causa de beatificação foi aberta em 2007. Os textos a
seguir ajudam a compreender a grandeza e a importância do testemunho do Cardeal
Van Thuan para a Igreja e para o mundo:
Opinião do Cardeal Renato Raffaele Martino:
(sucessor do Cardeal Van Thuân na
presidência do Pontifício Conselho Justiça e Paz, por ocasião do lançamento na Itália
de sua biografia, “O milagre da esperança”)
Permitam-me deter-me em alguns
aspectos muitos notáveis do texto, que já porta um título significativo: “o
milagre da esperança”. Geralmente a palavra milagre vem conectada à fé, os testemunhos fortes da fé
ou, ainda mais, às obras de caridade. É raro e pouco comum encontrar a palavra
milagre junto à palavra esperança. Mas eu não creio que haja um título mais
adequado, tão de acordo, para descrever com uma frase a biografia do Cardeal
Van Thuan. Tudo, em tantas circunstâncias de sua vida, encaminhava para
resultados desafortunados e sem esperança. Basta considerar as graves doenças
que o acompanharam ao longo de toda sua existência; a seu episcopado
doloroso; passado mais nas cadeias vietnamitas que diretamente na guia do
seu Povo de Deus; a descoberta do tumor que a carregaria ao túmulo no mesmo
dia em que recebeu a indicação ao cardinalato da Santa Igreja Romana; ao apego
visceral que tinha a seu povo e à sua nação – vivido quase sempre em condições
de exílio. Apesar disso, apesar de tudo, a esperança cristã mostrou neste homem
uma fecundidade miraculosa, que nos conquista e renova. “Podemos
verdadeiramente dizer que ‘sua esperança estava cheia de imortalidade’ (Salmo 3,4-6). Estava pleno de Cristo, vida e de ressurreição de quantos nele
confiam”, disse o Santo Padre na homilia das exéquias do cardeal.
[...] A esperança, vivida como
virtude e como paradigma, ajudou ao cardeal meu predecessor a ser humanamente
muito bom, simples, acolhedor, porque sua confiança em Deus o tornava
profundamente disponível e aberto a seus irmãos, e até mesmo a seus inimigos
[...]
Apesar da profundidade de seu pensamento, permaneceu simples como uma criança.
Aceitou a vulnerabilidade como o preço natural pela sua própria sinceridade
pureza: características certamente difíceis de serem mantidas por ele, quando
se pensa o mal que tantas pessoas fizeram a ele e à sua família.Todos nós sabemos que quando tentamos compreender o Cardeal Van Thuan, com
sua vida atormentada e seu excepcional testemunho cristão, estamos diante, no
final das contas, com o próprio Deus, que através de seus sinais
imperscrutáveis, realizou o milagre da esperança.
Opinião de Dom Giampaolo Crepaldi:
(secretário do Cardeal Van Thuan no
Pontifício Conselho Justiça e Paz, presidente do Observatório Internacional
Cardeal Van Thuan para a Doutrina Social da Igreja)
Deus, com o seu amor providente e
misericordioso, acompanhou-o, amparou-o, salvou-o nas vicissitudes complicadas
de uma vida vivida nas encruzilhadas mais dramáticas do século passado. O
Cardeal soube responder a este amor com um abandono confiante; permaneceu fiel
ao Senhor também nos momentos mais obscuros e perigosos da prova e da tentação.
Ele afirmava que permanecer no Senhor não é ócio nem passividade. É uma ação,
um ato de amor a Deus: "Quem está em Mim e Eu nele, esse dá muito
fruto" (João 15, 5). O testemunho radioso do Cardeal faz-nos compreender
profundamente o significado do evangelho de São Paulo: "já não sou eu que
vivo, é Cristo que vive em mim" (Gálatas 2, 20). Assim também a nossa oração
sabe tornar-se palavra de amor: Senhor Jesus, desejo permanecer em Ti, seremos
um só, uma única vontade, um só coração, um só impulso, um único amor. Deixará
de se distinguir entre o que pertence a Ti ou a mim.
Quando, no desempenho das práticas e
das atividades do Dicastério, surgiam problemas ou dificuldades difíceis de
resolver e governar, o Cardeal costumava tranquilizar-me, exclamando com
simplicidade evangélica: "Não se preocupe, o Senhor salva-nos!". Não
evitava as suas responsabilidades, mas orientava tudo para a justa perspectiva
da vontade misericordiosa de Deus e do Seu amor providente. Aquela sua
exclamação revelava a qualidade espiritual da vida interior do Cardeal e
constitui a chave para penetrar o mistério da sua alma. Tudo está nas mãos de
Deus e deve colocar-se tudo em suas mãos, sem resistências e com absoluta
confiança. [...]
Meditava, nos dias terríveis da
prisão, sobre a pergunta feita pelos discípulos a Jesus, durante a tempestade:
"Mestre, não se Te dá que pereçamos?" (Marcos 4, 39), até que uma noite,
do fundo do coração, uma voz lhe falou: "Porque te atormentas tanto? Deves
distinguir entre Deus e as obras de Deus, tudo o que realizaste e desejas
continuar a fazer, visitas pastorais, formação de seminaristas, religiosos,
religiosas, leigos, jovens, construção de escolas, de centros para estudantes,
missões para a evangelização dos não-cristãos..., tudo isto é uma obra
excelente, são obras de Deus, mas não são Deus! Se Deus quiser que tu abandones
todas estas obras, pondo-as em Suas mãos, fá-lo imediatamente, e tem confiança
n'Ele. Deus fá-lo-á infinitamente melhor do que tu; ele confiará as Suas obras
a outros, muito mais capazes do que tu. Tu escolheste unicamente Deus, e não as
suas obras!". Tinha aprendido a fazer a Vontade de Deus. Esta luz deu-lhe
uma nova força, que mudou completamente o seu modo de pensar e o ajudou a
superar momentos fisicamente quase impossíveis. Temos aqui, com palavras
essenciais, a verdade total e profunda de um cristianismo vivido de maneira
santa e exemplar. Foi este, deveras, o grande segredo do Cardeal Van Thuan!
Assim, soube viver na alegria de Cristo ressuscitado, no perdão, no amor e na
unidade, mesmo no meio das dificuldades quase insuportáveis. Esta sua atitude
fez mudar os seus algozes, que se tornaram seus amigos. Até o ajudaram, às
escondidas, a fazer uma cruz com pedaços de madeira, e depois a fazer também a
corrente para ela, com fio elétrico da prisão, que ele usou sempre, porque lhe
recordava o amor e a unidade que Jesus nos deixou no Seu Testamento. Aquela
corrente segurou sempre a sua cruz peitoral de Bispo e depois de Cardeal,
aquela velha cruz de madeira, coberta com um pouco de metal. Cruz de testemunho
heróico, cruz de amor.
Opinião do Papa Bento XVI:
(na Encíclica Spes Salvi, 32 e 34).
Primeiro e essencial lugar de
aprendizagem da esperança é a oração. Quando já ninguém me escuta, Deus ainda
me ouve. Quando já não posso falar com ninguém, nem invocar mais ninguém, a
Deus sempre posso falar. Se não há mais ninguém que me possa ajudar – por
tratar-se de uma necessidade ou de uma expectativa que supera a capacidade
humana de esperar – Ele pode ajudar-me. Se me encontro confinado numa extrema
solidão... o orante jamais está totalmente só. Dos seus 13 anos de prisão, nove
dos quais em isolamento, o inesquecível Cardeal Van Thuan deixou-nos um
livrinho precioso: Orações de esperança. Durante 13 anos de prisão, numa
situação de desespero aparentemente total, a escuta de Deus, o poder falar-Lhe,
tornou-se para ele uma força crescente de esperança, que, depois da sua
libertação, lhe permitiu ser para os homens em todo o mundo uma "Testemunha da Esperança", daquela grande esperança que não declina, mesmo nas noites da
solidão.
Para que a oração desenvolva esta força purificadora, deve, por um lado, ser
muito pessoal, um confronto do meu eu com Deus, com o Deus vivo; mas, por
outro, deve ser incessantemente guiada e iluminada pelas grandes orações da
Igreja e dos santos, pela oração litúrgica, na qual o Senhor nos ensina
continuamente a rezar de modo justo. O Cardeal Nguyen Van Thuan, contou no seu
livro de Exercícios Espirituais, como na sua vida tinha havido longos períodos
de incapacidade para rezar, e como ele se tinha agarrado às palavras de oração
da Igreja: ao Pai Nosso, à Ave Maria e às orações da Liturgia. Na oração, deve
haver sempre este entrelaçamento de oração pública e oração pessoal. Assim
podemos falar a Deus, assim Deus fala a nós. Deste modo, realizam-se em nós as
purificações, mediante as quais nos tornamos capazes de Deus e idôneos ao
serviço dos homens. Assim tornamo-nos capazes da grande esperança e ministros
da esperança para os outros: a esperança em sentido cristão é sempre esperança
também para os outros. E é esperança ativa, que nos faz lutar para que as
coisas não caminhem para o « fim perverso ». É esperança ativa precisamente
também no sentido de mantermos o mundo aberto a Deus. Somente assim, ela
permanece também uma esperança verdadeiramente humana.
Obs: Fonte:
http://www.pucsp.br/fecultura/textos/fe_razao/ocardeal_van_eo_significado.html#
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