"BEM VINDOS !"

domingo, 23 de dezembro de 2018

"UM CARISMA PARA A SANTIFICAÇÃO DE TODOS" (FREI HANS STAPEL)


Obs: Imagem extraída do site:
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"UM CARISMA PARA A SANTIFICAÇÃO DE TODOS" (FREI HANS STAPEL)

O CARISMA DA FAMÍLIA DA ESPERANÇA não foi uma invenção humana, mas divina. Foi Deus que o sonhou e planejou. A nós - da Fazenda da Esperança - coube fazer a Sua Vontade e acolher esse projeto de Deus. Nesse sentido, precisamos ter a convicção de que nascemos para nos santificar, isto é, para no final de nossas vidas podermos dizer: "Deus, eu lhe quero!". Por isso, nosso estado de vida, por exemplo, pouco importa: se sou casado ou consagrado, isso não tem qualquer influência a respeito da minha entrada no Reino dos Céus. NA VERDADE, JESUS QUER SABER DE NÓS SE AMAMOS OU NÃO AMAMOS, PORQUE É O AMOR QUE NOS SANTIFICA.

De fato, é uma graça particular esse carisma que Deus confiou a nós dessa Família que é o de cuidar de pessoas que sofrem pela dependência das drogas e outros vícios, uma vez que elas nos impelem a amar diariamente. Quantas  vezes tínhamos um plano e a convivência com esses irmãos nos obrigou a mudar toda a nossa vida .... Eu mesmo: de pároco, fui liberado pelos superiores da minha congregação para trabalhar por essas pessoas. Deus me deu uma chance de amar mais.

Trabalhar com dependentes - em grande parte,jovens - significa trabalhar com pessoas carentes, que não receberam o amor que deveriam ter recebido. Há quem chegou a ser rejeitado até mesmo pelos próprios pais. Desse modo, essas pessoas exigem um amor muito grande da nossa parte. E isso é uma graça!  Por vezes, a sociedade as vê como um problema, uma cruz, uma ameaça, mas para nós é uma chance de amar. Sejamos casados ou não, devemos dar uma resposta de amor que nos é possível a essas irmãs e irmãos.

No início, pensei que Deus queria apenas que cuidássemos dessas pessoas. Mas logo percebemos que elas têm uma família. E muitas famílias têm problemas: pais são separados, estão distantes dos filhos ou os superprotegem, o que significa que essas famílias também precisam de ajuda. Por isso, entendemos que o trabalho com as famílias durante o processo de recuperação da dependência é fundamental.

Da mesma forma, entendemos que quando essas pessoas saem da Fazenda, precisam de ajuda, isto é, precisam encontrar um ambiente onde possam viver esse estilo novo de vida, fundamentado no Evangelho; aliás, assim como as suas famílias. E isso fez nascer os Grupos Esperança Viva - GEV, voltados à acolhida de ex-recuperandos da Fazenda e seus familiares, que buscam manter os laços de uma convivência inspirada nesse nosso carisma.

E ainda: as religiosas das diferentes congregações que nos ajudam nesse trabalho também se identificam com esse carisma, uma vez que as auxiliam na vida pessoal e no cotidiano de suas comunidades. O mesmo se dá com diversos sacerdotes e religiosos que contribuem conosco ou que vêm  à Fazenda em busca de ajuda espiritual ou  mesmo contra alguma dependência. E mais: Bispos também vivem conosco momentos de profundidade na fé a ponto de afirmarem o quanto a Fazenda lhe faz bem. Por quê? Porque é um carisma que gera uma família. E, em família, há um lugar para todos.

Por fim, o Papa Emérito Bento 16, quando esteve aqui, foi muito tocado pelo carisma da Família da Esperança e falou sobre essa nossa experiência em diferentes locais e ocasiões. Por isso tudo, o carisma da Fazenda da Esperança nasceu para renovar a sociedade.Para levar todos à santidade. Até onde ele pode chegar, só Deus sabe.

Obs: Artigo extraído da revista: "Cidade nova - Fraternidade em Revista", exemplar 631, ano LX, Nº 11, mês: novembro, ano, 2018, página 16.
SITE DA REVISTA: www.cidadenova.org.br

domingo, 21 de outubro de 2018

"UMA FAMÍLIA CHAMADA ESPERANÇA" (IRACI DA SILVA LEITE)


"UMA FAMÍLIA CHAMADA ESPERANÇA" (IRACI DA SILVA LEITE)


O CARISMA DA ESPERANÇA é um dom de Deus para a humanidade. O que marcou a história desse carisma desde o início foi a vivência do Evangelho. Quando o Frei Hans Stapel chegou à nossa  paróquia, em Guaratinguetá (SP), ele nos propôs viver as palavras do Evangelho de forma radical. Isso nos fez descobrir aquelas palavras como algo realmente novo. Não se tratavam mais de palavras ditas há séculos, mas de algo que tinha valor atual e dava sentido às nossas vidas.

Assim, quando nosso pequeno grupo na paróquia começou a pôr em prática o que diz o evangelho, vimos acontecer algo novo, extraordinário.  De fato, quando vivemos a Palavra - porque é Palavra de Deus - muitas coisas acontecem. Como consequência, essa experiência garante à nossa vida um sentido, uma meta. E Jesus, cujas palavras decidimos seguir, nunca nos decepciona. Assim é na Fazenda da Esperança: colocadas em prática e pela graça de Deus, as palavras do Evangelho geram verdadeiros milagres na recuperação de pessoas que sofrem com a dependência química.

Essa nossa experiência, no entanto,foi (e é) marcada por uma atitude de amor gratuito, desinteressado. Assim como o amor evangélico, que é a base do carisma da Esperança, entrou na nossa paróquia, graças à vida da Palavra, esse mesmo amor penetrou na vida de quem se aproximou da família da Fazenda. Inicialmente na paróquia, nos lançamos a amar em particular aqueles que, naquele primeiro momento, mais precisavam: crianças, grávidas, doentes, pobres. Até que certo dia Nelson Giovanelle "foi até a esquina" e encontrou Jesus naqueles primeiros dependentes químicos que precisavam ser acolhidos. A partir daquele momento, o carisma da Esperança - mesmo que ainda nós mesmos não tivéssemos consciência disso - deu seu primeiro passo para ir além da nossa paróquia.

Quando da primeira confirmação oficial do carisma, a Igreja constatou que a expressão "FAMÍLIA DA ESPERANÇA" era bastante adequada para expressar a vida do Evangelho que buscávamos construir, porque continha duas realidades que dizem muito sobre a nossa experiência: a esperança e a família. De fato, quanto mais vivemos a Palavra de Deus, quanto mais somos família e cultivamos a esperança, mais esse carisma transforma a vida daqueles que dele se aproxima. É uma luz para todos!

Entre as Palavras do Evangelho, há uma que a nós, na Fazenda da Esperança, foi especialmente confiada: "Tudo que fizestes ao menor dos meus irmãos , a mim o fizeste" (Mateus 25,40). Nesse sentido, o outro, quem quer que seja e qualquer que seja a circunstância em que o encontramos, é sempre Jesus. Isso nos ajuda a acolher a pessoa, a recomeçar nos nossos relacionamentos. Da mesma forma, diante de nossas fraquezas, devemos lembrar que também nós somos Jesus e devemos aprender a nos perdoar.

A vivência desse carisma, enfim, atrai diversas pessoas, porque elas constatam que há algo de novo e especial. Trata-se simplesmente de Deus, da sua presença entre aqueles que pertencem a essa Família da Esperança. Isso porque, na família em que existe amor gerado pela encarnação das palavras do Evangelho, Deus está presente. Essa é sempre a nossa esperança.

Autora deste artigo: Iraci da Silva Leite

Obs: Este artigo foi extraído da Revista: Cidade Nova - Fraternidade em Revista, exemplar 630, ano LX, Nº 10, outubro de 2018.
Site da Revista Cidade Nova: www.cidadenova.org.br

terça-feira, 24 de julho de 2018

"VIVER A PALAVRA É MERGULHAR NO ESPÍRITO DE DEUS" (FREI HANS STAPEL)


"VIVER A PALAVRA É MERGULHAR NO ESPÍRITO DE DEUS" (FREI HANS STAPEL)

O QUE SIGNIFICA VIVER A PALAVRA DE DEUS? É preciso compreender bem isso, já que da vida da Palavra depende a nossa santificação. Lembro-me que ainda jovem, quando morava na Alemanha, fui para o seminário fazer o ensino médio, antes dos estudos de filosofia e teologia. Ali, esperava encontrar um lugar onde todos fossem santos. Porém, me decepcionei, porque a santidade era algo distante daquela realidade. Entrei em crise, uma crise profunda. Isso me levou a criticar tudo e todos.

Eu tinha aulas de religião, ministradas por um sacerdote, que era também o reitor do seminário. Diante de cada tema apresentado, eu levantava a mão e contava algumas experiências negativas, que o contradiziam. Ele buscava me responder,  mas o clima ficava sempre tenso. Certo dia, chamou-me e disse que se voltasse a "abrir a boca" na sua aula, eu seria mandado embora do seminário. E isso só fez aprofundar a minha crise.

Para minha sorte, vivia naquele seminário um padre - cujo nome também era Hans - que tinha conhecido o Movimento dos Focolares. Esse sacerdote percebeu minha crise. Então, certo dia, ele me chamou e disse: "Nas férias, preciso ir para Berlim. Tenho um encontro. Você não poderia me ajudar, dirigindo o carro?". Eu aceitei o convite.

Quando chegamos a Berlim, o padre Hans me levou à casa de uma família, onde eu ficaria hospedado. Era uma família normal. Mas o pai daquela família disse que eles tinham o costume de se reunir à noite e me convidou. Nesse encontro, todos - das crianças aos pais - começaram a contar como tinham vivido a Palavra naquele dia. Eram experiências muito concretas. Eu não sei o que aconteceu naquela noite, mas uma luz, uma graça e uma felicidade entraram no meu coração. Eu entendi, de uma forma esplêndida, o significado da Palavra de Deus.

Perguntei àquela família: "Eu posso viver assim?". "Sim!" me responderam. E juntos escolhemos uma Palavra para vivermos no dia seguinte. E comecei bem cedo. Lembro-me de tudo o que fiz naquele dia: cada momento era motivo de alegria. À noite, voltamos a nos encontrar. Eu não esperei ninguém falar: fui o primeiro! Meu coração estava tão cheio que eu precisava contar como eu tinha vivido! E, assim, os dias se seguiram extraordinários!

Diante daquilo tudo, entendi que precisava tomar uma decisão na minha vida. De volta ao seminário, propus ao padre Hans nos encontrarmos diariamente para contarmos nossas experiências. Ele topou. Olhando para trás, vejo esse período como uma escola. Tinha entrado na Escola do Evangelho. Descobrir que o Evangelho  não é apenas um livro, é a própria Palavra de Deus!

Não existe, pois, algo mais efetivo em nossa vida do que a Palavra de Deus vivida. A Palavra é um sacramento, é o próprio Deus, tem o mesmo valor da Eucaristia. Também na vivência da Palavra comungamos Deus. Por meio dessa experiência - desde que verdadeira e radical - Ele nos ilumina, fortalece e orienta. Afinal, Jesus nos garantiu: "A quem me ama, eu me manifestarei" (João 14,21). Portanto só é possível viver no espírito de Deus, se amamos, se colocamos em prática as Suas Palavras.

 Autor deste artigo: Frei Hans Stapel
Obs: o autor é sacerdote franciscano e cofundador da Fazenda da Esperança, uma comunidade terapêutica com mais de 30 anos de experiência na recuperação de jovens dependentes químicos, atuante em 128 unidades espalhadas por 19 países de todo o mundo.

Obs: Este artigo foi extraído da Revista Cidade Nova - Fraternidade em Revista, exemplar 625, ano: LX, nº: 5, mês: maio de 2018. Site da Revista Cidade Nova: www.cidadenova.org.br

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

"A GRANDE ESPERANÇA - NELSON GIOVANELLI"


"A GRANDE ESPERANÇA - NELSON GIOVANELLI"

A VERDADEIRA ESPERANÇA NÃO DECEPCIONA. Se entendermos isso, nada nos fará sentir derrotados. Todos nós temos, ao longo da minha vida, esperança em muita coisa. É o que podemos chamar de "esperanças pequenas'. Mas, porque "pequenas", elas podem  nos decepcionar. Aqueles que vivem da "esperança grande", ao contrário, não se decepcionam. Porque esta é Deus, é Jesus.

Desde pequeno, eu alimentava a esperança de não ver mais meu pai chegar alcoolizado em casa, de ver meus pais se entenderem. Mas, diante de decepções em relação a essas minhas esperanças,  sempre ficava triste. Vivi minha adolescência sempre na expectativa de que algo mudasse. Estava convencido de que seríamos felizes quando meu pai parrasse de beber.

Pensava assim até que um dia alguém me falou da "grande esperança". Era o frei Hans Stapel. Ele não falava da esperança em si, mas de uma vida em paz. Ele falava na missa e, depois da celebração, muita gente o procurava para conversar. E uma dessas pessoas era eu. Tinha 17 anos de idade. Fui até o Frei e contei sobre tudo o que acontecia em casa. E ele apenas me escutava. Disse-lhe que a culpa de todos os problemas que tinha no coração, de todos os problemas que tínhamos em casa, era meu pai.

No final, ele me disse simplesmente: "Nelson, o problema não está em seu pai. O problema está em você que ainda não viu Jesus nele". E me perguntou: "Você já experimentou?". "Como? Mesmo quando ele chega alcoolizado em casa, ele é Jesus?", questionei. "Sim", respondeu o Frei. Eu não sabia, mas, naquele dia, a esperança entrou no meu coração. Voltei decidido para casa. Na minha frente, surgiu um caminho de esperança: eu não preciso mais esperar que meu pai pare de beber. Eu preciso somente amá-lo.

Cheguei em casa e vi meu pai na sala, lendo jornal. Fui direto até a cozinha para fazer o café. Eu sabia que meu pai gostava de café forte. Caprichei! Era a primeira vez que fazia o café para ele. Quando viu o que tinha feito, ele parou de ler o jornal e me olhou surpreso. Naquele momento, senti algo mudar dentro de mim. E continuei! Eu sabia que meu pai gostava muito de caminhar. Tomei coragem e um dia lhe perguntei se podia caminhar com ele. Nessa caminhada, iniciamos um diálogo. Eu vi o amor que esse homem tinha no seu coração. Amor que o meu julgamento, o meu desejo de que ele mudasse, não me permitia ver.  Eu estava fixo na ideia daquela esperança pequena, de que meu pai tinha que parar de beber. Eu tinha, pois, encontrado em Deus a grande esperança da minha vida. Aos poucos, entre mim e meu pai começou a crescer essa esperança grande.

Por isso, cada pessoa deve se perguntar: onde está a minha esperança? Se a sua esperança está em realizar os sonhos humanos (as esperanças pequenas) , mesmo se legítimas, é  certo que você não conseguirá superar aquela tristeza, aquela angústia que experimenta, muitas vezes, assim que acorda. Mas se a pessoa encontra em Deus a razão de sua esperança, será capaz de sorrir sempre, como uma criança, mesmo sem saber explicar por quê. No coração, dessa pessoa já reside a esperança grande, a única capaz de resgatar o encanto pela vida.

Autor: Nelson Giovanelli
(O autor é cofundador da Fazenda da Esperança, uma comunidade terapêutica com mais de 30 anos de experiência na recuperação de jovens dependentes químicos, atuante em 128 unidades espalhadas por 19 países de todo o mundo)

OBS: Este artigo foi extraído da Revista Cidade Nova - Fraternidade em Revista, exemplar 622, ano LX, nº 2, fevereiro de 2018, página 18. Site da Revista Cidade Nova: www.cidadenova.org.br