"INÊS GOMES DE MELO: SUA HISTÓRIA DE VIDA"
(Perfil da focolarina Inês de Melo, lido em sua missa de corpo presente)
Inês foi uma das 4 primeiras focolarinas brasileiras.
Em 1929, em Recife, em uma família de sólidos
princípios cristãos e de 7 irmãos: Luciano, Jorge, Fernando, Edgar,
Angela, Cida. Aqui entre nós hoje estão alguns de seus sobrinhos.
Estava noiva, tinha um bom trabalho em um banco, inclusive com um
cargo de responsabilidade. E, não obstante tudo, algo lhe faltava. Em
1958 no Ideal encontrou a luz que iluminou completamente a sua vida, e a
revolucionou, como ela mesma testemunhou:
“Um sacerdote me disse:
‘você está em busca de alguma coisa’, e pediu a algumas moças da Ação
Católica que me envolvessem em suas atividades. Logo me tornei a
presidente da Juventude Independente Católica do Nordeste do Brasil.Um
dia, estava indo a uma igreja para falar a alguns jovens. Estava ali um
focolarino italiano, era Marco Tecilla que contou a história de Chiara e
das primeiras focolarinas. Fiquei profundamente tocada, um fogo começou
a arder em meu coração, um fogo que arde até hoje”.
“Marco, Lia e Fiore
prosseguiram para São Paulo. Dias depois mandaram um telegrama no qual
convidavam, a mim e a outras jovens, para a Mariápolis de
FieradiPrimiero, na Itália. Uma surpresa! Mas como poderíamos fazer
aquela viagem? Enquanto procurávamos os meios para responder ao convite,
na viagem de retorno à Roma, por um defeito mecânico, o avião no qual
eles viajavam aterrissou em Recife – uma mudança de programa guiada pela
Providência Divina, que permitiu que estivéssemos com eles por mais
quatro dias. Esse fato foi um empurrão para procurarmos os meios para a
viagem. Eu já havia entendido claramente que a minha vocação era o
Focolare. O meu enxoval estava pronto, muito bonito, com peças valiosas.
Tive a ideia de vendê-lo, e assim, com o dinheiro arrecadado e a ajuda
de meu irmão, compramos as quatro passagens para ir à Mariápolis”.
As quatro jovens brasileiras ficaram na Mariápolis por dois meses.
Muito especial e profundo foi o relacionamento pessoal que tiveram com
Chiara e a consagração dos povos a Maria, feita durante a Mariápolis.
PIONEIRISMO NO BRASIL
Voltando a Recife Inês retomou o trabalho e, pouco depois, chegaram
Ginetta, Marco e os outros focolarinos e focolarinas, para abrir os
primeiros Focolares no Brasil, justamente em Recife. Inês participou
vivamente da preparação do apartamento, e em seguida entrou ela também
para fazer parte do Focolare.
Embora com a boa vontade de todos,viviam em meio à pobreza. Mesmo
assim, a vida ao redor do Focolare nascia, e Inês escreveu a Chiara, em
1961: “Ver a vida da
comunidade de Recife é uma graça imensa, ver uma comunidade que nasce do
nada e que começa a colocar Deus no Seu lugar… estou feliz por tocar
com as mãos este milagre de Jesus entre nós”.
Depois de um ano Inês foi fazer uma formação no Centro do Movimento em Roma. Ao retornar escreveu a Chiara: “Descobri o seu verdadeiro Focolare, que está espalhado pelo mundo, onde não existem limites ou muros”.
No Brasil prossegue a sua vida como verdadeira pioneira, percorrendo,
com o passar dos anos, quase todo o país. Em 1967, com outras
focolarinas, visita as regiões do sul, em Porto Alegre, dando vida às
primeiras comunidades. Escreve a Chiara: “Eu
queria correr, correr, e tenho a impressão de que é Deus mesmo que
colocou este anseio dentro da minha alma… correr por Ele, por amor aos
irmãos, para que a Sua vida chegue a todos”.
Em 1970 vai para a região do Norte onde permanece por 27 anos.
Trabalha com paixão com um olhar amplo sobre o aspecto social. Colabora
no nascimento da Mariápolis Glória e dá a vida pelo projeto
agrícola-social Magnificat e na abertura dos focolares de Manaus, S.
Luis e Teresina, pontos estratégicos da imensa região. Para ela tudo é
possível, nada parece demais para fazer avançar o Reino de Deus. Com a
sua fé e o seu talento, encontra a Providência das maneiras mais
impensáveis e aventurosas.
Durante as longas viagens de barco, que às vezes duram vários dias,
consegue sempre criar um clima de distensão e alegria, apesar do
cansaço. Este seu modo de agir arrasta a todos, especialmente os jovens
que descobrem um estilo de vida cristã cheio de entusiasmo, criatividade
e coragem. Nascem muitas vocações ao Focolare e à Obra.
Salomão Laredo, escritor paraense escreveu em um artigo: “Coragem de
ser mulher e de ser apóstola da Obra de Maria na Amazônia.”– “Foi na
Amazônia, no silêncio gritante da floresta, que deu a vida pelo
evangelho, defendeu a fé, construiu cidadania, plasmou florestania,
formou consciência crítica, política, religiosa no meio do povo… sem
recursos, acreditando na providência divina e que tudo se resolve com
Jesus em meio. Altiva e simples, Inês acreditava no ser humano, no vir à
ser. Levou ao Pai os anseios que a ela confiei e quero aqui agradecer a
essa mulher de fibra, corajosa e amiga, que enfrentou heroicamente
muitas batalhas, inclusive a última”.
Naturalmente as dificuldades não faltam. Escreve a Chiara, em 1982: “A luz se compreende rapidamente… A encarnação custa… Creio na onipotência de Deus.A nossa vida é um eterno recomeçar.”
Em 1983: “Os
tantos problemas que afligem a humanidade deixam-nos sem saber o que
fazer, e nos sentimos cansados. E então tu chegas, e nos fazes acreditar
em Jesus até mesmo naquilo que parece impossível”.
Em 1997 deixa aquela região, e doa a Chiara a sua experiência: “Deus
proporcionou-me uma forte experiência, fazendo-me reviver Jesus
Abandonado como meu único bem. Dentro de mim encontro paz, alegria,
felicidade”.
Chegando a Recife, encontra uma comunidade madura e comprometida,
rica de atividades. Juntamente com os focolarinos, entra plenamente na
realidade local, com a sabedoria e a coragem que são sua marca pessoal.
Mesmo com sua personalidade forte, sabe reconhecer com humildade
eventuais excessos. Embora muito ativa, é profunda, recolhida, capaz de
uma grande misericórdia.
De sua inspiração parte o convite a Chiara para visitar também o
Recife no quadro da viagem à Argentina e ao Brasil, em 1998. Aqui Chiara
deveria receber o título de cidadã honorária de Recife, o doutorado
honoris causa em economia pela UNICAP, encontrar os habitantes da
Mariápolis Sta. Maria que ela mesma tinha começado em 1965. Mas os
desígnios de Deus não eram esses e por motivo de saúde Chiara não pode
vir; uma dor imensa que Inês assume em primeira pessoa e sabe “perder” e
assim gerar luz para todos nós.
VIVER CADA MOMENTO
Desde aquele período a sua saúde começa a declinar. São quedas
imprevistas, cirurgias. Mas sempre retorna à vida da Obra com toda a
energia. Vivemos com ela um dinamismo humano/divino: Convivência com
humor e profunda comunhão, relacionamentos abertos com pessoas da Obra e
fora dela. Aproximação com a família, irmãos, sobrinhos, dos quais
mesmo estando longe sempre teve um cuidado afetuoso,visitando sempre que
possível.
Vive ainda anos de grande fecundidade, constrói a Obra com amor e
dedicação: Mariápolis Sta. Maria, PóloEdC, MpPU, visitas às comunidades
da Obra. Escreve a Chiara em 2000: “Viverei como disseste aos gen4:
amar um de cada vez, vivendo cada momento fixa em Jesus Abandonado,
nosso único bem. Sei que é o único modo para realizar o desígnio de Deus
sobre a Obra”.
Com a diminuição das forças Inês transfere-se para a Itália, para
cuidar da saúde e ter um ritmo de vida mais repousante. Ali acompanha
espiritualmente as focolarinas que moram com ela. É o momento da
Desolada, de perder a Obra que construiu com tanta dedicação para
abraçar um novo serviço a Deus nos irmãos. Mais uma vez revela-se uma
presença cheia de amor, e em 2005 diz a Chiara: “Cheguei à
intimidade com Deus e na minha vida tudo se tornou expressão do coração.
Encontrei uma grande luz (…) ao renegar a mim mesma encontro a dor que
me une à Desolada e a Jesus Abandonado, o nada que me faz contemplar a
vida da Trindade!”.
m 2009, não podendo vir para a festa dos 50 anos da Obra no Brasil, Inês envia uma mensagem: “Estão
presentes no meu coração todas as pessoas com as quais pude ter Jesus
no meio. O Ideal da unidade uniu-nos para sempre, como irmãos e irmãs.
Tenhamos sempre Jesus no meio, permaneçamos fieis a Jesus Abandonado,
fonte da unidade, e veremos ainda, agora e no futuro, coisas grandes
realizadas por Deus entre nós”.
A Emmaus escreve: “Deus está muito presente na minha vida com um
amor grande e constante, que preenche cada vazio, e por isso
agradeço-lhe imensamente”.
Este foi o estado de alma que a acompanhou também quando a doença se
manifestou em toda a sua dureza, e as capacidades físicas e mentais
diminuíram. Inês vive com grande docilidade, sem lamentar-se, totalmente
confiada a Deus e às pessoas que cuidam dela com amor. Conserva sempre
um leve sorriso e o seu olhar profundo exprime, ainda que sem palavras, o
Sim renovadono “acreditar no Amor”.
Com a sua vida ela testemunhou a Palavra de Vida recebida de Chiara:
“Quem escuta as minhas palavras e as põe em prática…Assemelha-se ao
homem que ao construir uma casa, cavou, aprofundou e lançou o alicerce
sobre a rocha” (Lucas 6, 47-48).
Obs: Imagem e informações extraídas do site:
http://www.focolares.org.br/2019/02/14/ines-gomes-de-mello-sua-historia-de-vida/